Vantagens e desafios da inseminação artificial em bovinos de corte

Postado em: 01/08/2019 | 6 min de leitura Escrito por:
Historicamente, o Brasil tem sido um dos maiores produtores de carne bovina e, nos últimos dez anos, o maior exportador do mundo.

O rebanho brasileiro é composto de diferentes grupos raciais destinados a produzirem carne, leite ou ambos (dupla aptidão). Devido à resistência natural ao calor e parasitas, as raças zebuínas, com destaque para a raça Nelore e seus cruzamentos, formam cerca de 80% de todos os animais.

Por outro lado, as raças taurinas, apesar de serem mais sensíveis ao estresse ambiental, possuem características muito interessantes de produção, tais como a qualidade da sua carne, que tem excelente acabamento de gordura e maior precocidade reprodutiva.

Nesse contexto, a inseminação artificial (IA) vem contribuído significativamente para a seleção e multiplicação de animais geneticamente superiores, bem como pela formação de novos tipos de animais com as melhores características de cada raça. Ainda, o uso extensivo da IA, apoiada por tecnologias relacionadas, tais como a sincronização do cio, a inseminação em tempo fixo (IATF) e o sêmen sexado, vem modificando paradigmas tradicionais de manejo reprodutivo dos rebanhos, tornando mais eficientes e competitivos os sistemas de produção da pecuária de corte brasileira.

O crescimento da IA em gado de corte observado nos últimos anos deve-se, principalmente, ao aprimoramento de protocolos hormonais desenvolvidos no intuito de realizar a inseminação artificial em um momento específico, sem necessidade de detecção do cio (IATF). Isto foi possível pela evolução nos conhecimentos básicos da fisiologia reprodutiva, que levou ao desenvolvimento de tratamentos hormonais capazes de estimular, de forma controlada, o crescimento folicular, a luteólise e a ovulação dos animais.

Segundo estimativas do Departamento de Reprodução Animal da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (FMVZ/USP), o número de inseminações artificiais em tempo fixo (IATF) atingiu 13,3 milhões de procedimentos em 2018.

Atualmente, a IATF – Inseminação Artificial em Tempo Fixo responde por 86,3% das inseminações realizadas no Brasil (15,4 milhões de doses de sêmen comercializadas; INDEX ASBIA 2018 ajustado para 100% do mercado), ganhando cada vez mais espaço no mercado de genética e reprodução animal. A base de cálculo para estimar a quantidade de IATFs realizadas no Brasil leva em consideração o número de protocolos comercializados (informação disponibilizada pelas empresas do setor) e o número de doses de sêmen comercializadas (divulgado pela Associação Brasileira de Inseminação Artificial – ASBIA).

Os levantamentos realizados apontam que a utilização dessa tecnologia nas fazendas brasileiras cresceu 130 vezes nos últimos 16 anos. Esse forte avanço indica que os investimentos aplicados em pesquisa e desenvolvimento (P&D) levaram em consideração as reais necessidades do setor, com resultados positivos para a pecuária de corte e de leite.

Em 2002, no início da coleta de dados sobre o mercado da IATF, apenas 6% das matrizes do rebanho nacional eram inseminadas e, consequentemente, havia limitado avanço genético. Na atualidade, o percentual de matrizes inseminadas mais que dobrou, passando em 2018 para 13,1% do total de matrizes do rebanho nacional.

Do total de 72,5 milhões de fêmeas bovinas em idade reprodutiva presentes no rebanho brasileiro (vacas e novilhas; ANUALPEC, 2018), 13,1% são inseminadas artificialmente, sendo 86,3% das inseminações realizadas em tempo fixo (13,3 milhões de IATF). Das fêmeas inseminadas por IATF, calcula-se que 10,2 milhões (77,6%) são fêmeas de corte e 3,1 milhões (22,4%) são fêmeas de aptidão leiteira.

Esses números revelam que houve o uso de 95% de IATF nas matrizes de corte e de 65% nas matrizes de leite inseminadas (considerando o total de sêmen comercializado para esses setores). O percentual em rebanhos leiteiros é menor, pois, como as matrizes de leite são manejadas todos os dias, há maior facilidade para detecção de cio, favorecendo o maior uso da inseminação convencional.
As dificuldades de detecção de cio são mais evidentes em rebanhos de corte devido ao manejo a pasto dos animais.

Ganhos financeiros

Na cadeia de produção de carne e leite, estima-se que a IATF gere aproximadamente R$ 3,5 bilhões ao ano. Esses ganhos são relacionados ao aumento da produtividade devido à melhora da eficiência reprodutiva (mais bezerros produzidos por matriz e redução do intervalo entre partos) e do ganho genético (nascimento de bezerros geneticamente superiores que produzem mais carne e leite), quando comparado ao sistema que utiliza a monta natural.

Em rebanhos de corte, parte do ganho financeiro gerado pelo emprego da IATF explica-se pelo aumento da quantidade de bezerros produzidos e pela qualidade genética destes produtos. Considerando-se que a IATF é empregada em 10,2 milhões de matrizes de corte, gerando aumento de 8% na produção de bezerros, há produção extra de 816.000 bezerros por ano, o que representa uma renda adicional de R$ 979 milhões (considerando o preço do bezerro R$ 1.200,00).

Além disso, é sabido que pela antecipação do parto e pelo ganho genético, há um ganho médio de 20 kg no peso ao desmame por bezerro produzido por IATF. Assim, se for considerada uma taxa de desmama de 42% (42 bezerros desmamados para cada 100 vacas submetidas à IATF), seriam produzidos 4,3 milhões de bezerros desmamados com 20 kg a mais que os bezerros convencionais, ou seja, um ganho extra de quase R$ 514 milhões (considerando preço do kg vivo do bezerro a R$ 6,00).

Além disso, bezerros provenientes de IATF apresentam ganho adicional de uma arroba do desmame ao abate, totalizando mais R$ 629 milhões (~ 4 milhões de animais abatidos x R$ 150,00 por arroba) de renda extra. Dessa forma, a IATF gera para a cadeia produtiva de bovinos de corte um impacto de R$ 2,1 bilhões a mais por ano.

Vantagens e desafios da inseminação artificial

Confira abaixo algumas vantagens e desafios da implementaçao da inseminação artificial em bovinocultura de corte:


– Acelera o melhoramento genético;

– Possibilita o uso de touros provados;

– Ajuda a evitar consanguinidade;

– Facilita o cruzamento entre raças;

– Permite a estocagem e transporte de material genético;

– Facilita o teste de progênie;

– Auxilia no controle de doenças sexualmente transmissíveis;

Porém, a técnica possui alguns desafios, que na verdade deveriam ser colocados como condições mínimas para um bom resultado. Geralmente, são os seguintes:

– Mão de obra treinada: dela depende em mais de 50% o sucesso da técnica, pois está envolvida em todas etapas do processo;

– Acompanhamento técnico: imprescindível, principalmente na implantação, na manutenção e avaliação dos índices obtidos;

– Controle sanitário: Não se deve tentar implantar IA em locais onde a mortalidade de crias é elevada, onde existam doenças infecto-contagiosas que possam provocar abortos ou redução de fertilidade das fêmeas. Inicialmente controlar estas situações e depois implantar a inseminação;

– Boa nutrição: É um dos aspectos mais importantes, invariavelmente a IA (reprodução) apresenta melhores resultados onde a nutrição é boa;

– Bom Manejo: Associado á nutrição, pode interferir muito nos resultados. Como exemplo podemos citar os problemas de instalações inadequadas etc;

– Escrituração zootécnica: Importante para animais de produção como bovinos. Devem ser anotados pelo menos, partos, coberturas, inseminações, cios e um controle leiteiro mensal no caso de gado de leite, para que se possa acompanhar os resultados da técnica e mensurar a melhoria da eficiência da atividade.

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Fontes consultadas:

ATUALIDADES SOBRE O USO DA INSEMINAÇÃO ARTIFICIAL NA PECUÁRIA DE
CORTE NO BRASIL - Artigo de Rafael Herrera Alvarez e Nazario Pescador Salas, para a APTA Regional (http://aptaregional.sp.gov.br/acesse-os-artigos-pesquisa-e-tecnologia/edicao-2016/2016-julho-dezembro/1715-atualidades-sobre-o-uso-da-inseminacao-artificial-na-pecuaria-de-corte-no-brasil/file.html).

Inseminação artificial em bovinos (https://www.beefpoint.com.br/inseminacao-artificial-em-bovinos-6987).

IATF gera ganhos que superam R$ 3,5 bilhões nas cadeias de produção de carne e de leite (https://revistadeagronegocios.com.br/iatf-gera-ganhos-que-superam-r-35-bilhoes-nas-cadeias-de-producao-de-carne-e-de-leite)

 
 

 

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