Como o bem-estar das vacas afeta os índices reprodutivos do rebanho e impacta o negócio

Postado em: 09/09/2019 | 6 min de leitura Escrito por:
A eficiência reprodutiva dos rebanhos leiteiros está em queda. Nas décadas de 50 e 60, taxas de concepção estavam em torno de 60 a 65%. Hoje, 50 anos mais tarde, muitos rebanhos se dão por satisfeitos se alcançam taxas de concepção de 30-35%. Será que isso está de alguma forma relacionado ao bem-estar das vacas?

Estudos mostram que, em grande parte, esta queda do desempenho reprodutivo pode ser atribuída às maiores produções de leite, que podem afetar os parâmetros reprodutivos do rebanho.

Internacionalmente são identificadas características da produção de bovinos que representam pontos críticos de bem estar animal, sendo que a maior parte desses é inerente aos sistemas e a carga genética para a alta produção. A crescente seleção genética para a produção de leite é um fator que leva a decréscimo de fertilidade e longevidade das vacas, além de elevar os índices de doenças reprodutivas.

Confira abaixo alguns índices reprodutivos que são importantes para auxiliar a identificar problemas e melhorar o manejo reprodutivo do rebanho e também como a melhora no bem-estar das vacas pode ajudar a aumentar o desempenho nesses índices:

1) Taxa de detecção de cio

A meta para esse índice é de 60-70% de detecção de cio, e se sua taxa cair para menos de 40%, há um grande motivo de preocupação. Nesse contexto, é importante que um funcionário utilize cerca de 20 a 30 minutos, 3 vezes ao dia, para checar a presença de vacas no cio e avaliar a possibilidade de novo treinamento para essa tarefa.

A capacidade da vaca de expressar o comportamento natural do cio pode ser inibida por muitas variáveis, como estado de saúde da, desempenho produtivo e ambiente. Sabe-se que alto rendimento, claudicação, distúrbios metabólicos, outros problema de saúde, estresse térmico, estresse social, superlotação e tipo de alojamento têm um impacto direto na capacidade da vaca de exibir comportamento típico de cio.

Dessa forma, fica claro que fatores relacionados ao bem-estar das vacas podem influenciar no seu comportamento de cio, o que certamente prejudicará na taxa deste na fazenda. Por isso, é essencial manter vacas exibindo um comportamento mais natural possível para que o manejo reprodutivo funcione corretamente.

2) Número de dias para o primeiro serviço

Esse parâmetro indica quanto tempo leva para identificar o primeiro cio pós-parto. Para determinar o número de dias ideal para o primeiro serviço, recomenda-se adicionar 11 dias ao período voluntário de espera (PVE) de cada fazenda. A meta para o número de dias para o primeiro serviço é de 75 dias pós-parto e quando esse tempo é superior a 75 dias, é preciso fazer as seguintes checagens:

a) se a detecção do cio está sendo realizada adequadamente;
b) se está havendo perdas muito pronunciadas no escore de condição corporal.

Esse índice tem relação direta com a taxa de detecção de cio, discutida anteriormente, além de estar relacionado ao escore de condição corporal da vaca. O período que antecede e que sucede o parto já são estressantes por si só em termos fisiológicos. Dessa forma, é essencial que medidas relacionadas ao manejo do animal, seja nutricional ou referente ao conforto, sejam tomadas para garantir que as vacas alimentem-se com a frequência necessária e consumam os nutrientes necessários para seu bom desenvolvimento pós-parto.

Vacas em situações de estresse por questões de excesso de calor (estresse calórico), dores, superlotação, tratamento rude pela equipe da fazenda, alterarão seu comportamento alimentar, o que se traduzirá em perda de escore de condição corporal. Isso afetará o número de dias para o primeiro serviço.

3) Taxa de concepção

Esse indicador mostra a acurácia na identificação de cios, a correta inseminação e a fertilidade das vacas. O principal objetivo é o alcance do maior número de vacas prenhas, tendo como meta obter 55% no primeiro serviço (apesar de ousada, é totalmente atingível). Para os demais serviços, a meta de taxa na concepção é de 50%.

Um dos problemas que pode afetar essa taxa é a incidência de problemas reprodutivos no rebanho: checar a porcentagem de partos com distocia, partos com retenção de placenta e casos de metrite.

Para que o sistema imune funcione adequadamente, é necessário que a vaca tenha cortisol em um nível fisiológico. Assim, qualquer alteração no nível de cortisol, ou seja, qualquer fator estressante que aumente esse, reduzirá a capacidade de resposta imune dessa vaca.

Os principais causadores de problemas de saúde no sistema reprodutivo das vacas, como por exemplo, retenção de placenta, são os fatores estressantes como: deficiência nutricional, falha de manejo, distúrbios endócrinos, duração anormal de gestação, deficiências imunológicas e fatores ambientais estressantes.

Além disso, o estresse calórico, que também é um indicador de bem-estar, afeta negativamente a qualidade do sêmen e do óvulo e interfere na sincronização normal entre a ovulação e a manifestação de cio. O efeito negativo desse tipo de estresse na qualidade do óvulo começa nos estágios iniciais do desenvolvimento folicular (poucas semanas antes da ovulação). O tempo de ovulação geralmente é atrasado sob condições de descntrole de temperatura em relação ao início do cio. Portanto, em muitos casos, as vacas são artificialmente inseminadas muito cedo em relação ao tempo de ovulação, o que leva a um declínio significativo em sua taxa de concepção.

4) Taxa de prenhez

Esse é uma das taxas mais importante para análise de índices zootécnicos pelos profissionais que se dedicam ao estudo de reprodução. O que a define é a quantidade de vacas elegíveis de fato ficaram prenhas em determinado período de tempo. Vacas elegíveis são vacas vazias que superaram o período voluntário de espera.

Essa taxa pode ser estimada ao multiplicar a taxa de detecção de cio x taxa de concepção. A meta são taxas superiores a 22-25%, sendo que índices menores que 12-15% merecem intervenção imediata.

Como a taxa de detecção de cio e a taxa de concepção são afetadas pelo bem-estar das vacas, esse índice também será afetado como consequência, já que são interdependentes.

5) Descarte por falhas reprodutivas

Um importante fator de descarte de vacas é por falhas durante a reprodução. Contudo, a meta ideal de descarte por esse motivo não deveria exceder 1/3 do número total de descartes no rebanho. É preciso averiguar alguns pontos para entender a baixa fertilidade do rebanho, entre eles: alta consanguinidade, genética que está sendo utilizada (fertilidade do sêmen), técnica de inseminação artificial usada, estresse calórico, sanidade geral, limitações nutricionais, ambiente uterino e alta produção de leite.

Nesse índice, fica claro que o bem-estar das vacas interfere diretamente nesse descarte, já que o estresse afeta a sanidade geral dos animais, afeta o consumo de alimentos, gerando limitações nutricionais, afeta o ambiente uterino e está intimamente relacionado a vacas de alta produção.

Portanto, fica óbvio que há uma estreita relação entre o bem-estar das vacas e os índices reprodutivos do rebanho, de forma que a melhora do primeiro levará à melhora no segundo, impactando diretamente nos resultados da fazenda.

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Fontes consultadas:

7 índices que você precisa conhecer para avaliar a eficiência reprodutiva do rebanho (https://www.educapoint.com.br/v2/blog/pecuaria-leite/7-indices-reprodutivos)

Effect of heat stress and cooling on cows’ fertility (http://www.milkproduction.com/Library/Scientific-articles/Housing/Effect-of-heat-stress-and-cooling-on-cows-fertility/)

Heat Detection for Dairy Cows (http://www.engs-dairy.com/category/heat-detection-for-dairy-cows)

CONCEITOS E CONSIDERAÇÕES SOBRE O BEM ESTAR ANIMAL NA PRODUÇÃO DE BOVINOS – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA- (http://revistaeletronica.unicruz.edu.br/index.php/CIENCIAETECNOLOGIA/article/view/471)

10 perguntas e respostas sobre retenção de placenta (https://www.educapoint.com.br/v2/blog/pecuaria-geral/perguntas-e-respostas-retencao-placenta/)





 

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