Como a nutrição representa uma grande parte do custo da
produção de leite, os produtores estão sempre em busca de
alimentos alternativos para a alimentação de bovinos,
em substituição ao milho, tradicionalmente utilizado como fonte
de energia para bovinos leiteiros.
A inclusão de co-produtos nas dietas de vacas leiteiras tem dois
objetivos principais: a) baixar os custos de alimentação,
mantendo desempenho satisfatório e b) reduzir o teor de amido
das dietas ricas em grãos de cereais, com concomitante aumento nos
teores de fibra, o que contribui para melhoria do ambiente ruminal e
elevação do teor de gordura do leite.
Os grãos de cereais, em especial o milho, representam a principal
fonte de energia em concentrados fornecidos para vacas leiteiras.
Entretanto, além desse fato, vacas de alta produção de
leite, quando alimentadas com dietas contendo silagem de milho, como
volumoso principal, milho e farelo de soja - que apresentam teores de amido
superiores a 30% da MS – possuem maior risco de desenvolver acidose o
que, normalmente, resulta em produção de leite com baixo teor
de gordura.
Alguns alimentos podem substituir o milho parcialmente ou mesmo integralmente.
Entretanto, outros alimentos, dependendo no nível de
substituição, podem afetar a produção de leite,
dadas as peculiaridades de cada ingrediente.
O componente presente no grão de milho que fornece energia é o
amido. Várias alternativas estão
disponíveis para substituir a energia na dieta, mas substituir o amido
é difícil. Do ponto de vista nutricional, um nutriente somente
deveria ser substituído por outro ingrediente de igual ou melhor valor
nutricional.
Entretanto, quando estudos de desempenho comprovam o efeito e a
eficiência das fontes alternativas de menor valor nutricional, um estudo
avaliando preço do produto e o desempenho animal esperado pode ser o
principal balizador para a tomada de decisão em utilizar uma fonte de
energia diferente do milho grão (amido).
Alguns cuidados devem ser tomados ao substituir o milho por outro produto,
pois dadas as composições de cada alimento, os níveis de
amido, proteína bruta e fósforo poderão variar
consideravelmente, conforme apresentado na Tabela 1.
Tabela 1. Valor nutritivo de alimentos alternativos ao milho passíveis
de serem utilizados na alimentação animal.
Confira abaixo alguns dos alimentos mais utilizados como substitutos do
milho:
Sorgo
Um dos seus grandes atrativos é seu
preço, girando em torno de 70 a 80% do preço do
milho. Assim como o milho o sorgo é um cereal rico em amido (65 a 72%
da MS), com teor de PB (11,6%) e de fibra (10,9%) pouco superiores ao do
milho. Entretanto, o NDT do sorgo é geralmente inferior ao do milho,
geralmente em torno 90% do valor do milho.
O menor valor energético do sorgo em relação ao milho se
deve à
menor digestibilidade do amido deste cereal. Em
comparação ao milho, cevada, trigo e aveia, o sorgo é o
cereal que apresenta o amido menos digestível. Isto se deve a uma maior
presença de matrizes e corpos proteicos revestindo os grânulos de
amido do sorgo em comparação aos demais cereais.
Devido a esta peculiaridade, o sorgo é o que mais se beneficia de
processamentos mais intensos como a floculação. No Brasil, a
principal forma de processamento é a moagem. Neste caso, a moagem fina
é indicada em relação a moagem mais grosseira.
Os estudos indicam que o sorgo processado na forma seca (moagem ou
laminação) é realmente inferior ao milho, quando
fornecidos para vacas leiteiras e para bovinos de corte. A
produção de leite é inferior para o sorgo moído ou
laminado quando o consumo da dieta não é alterado por este
cereal em comparação ao milho, processado da mesma forma.
Produções similares têm sido relatadas, porém neste
caso o consumo das dietas com sorgo tem sido superior as dietas com milho,
resultando em pior eficiência alimentar.
Quando processado de forma mais intensa, no caso através da
floculação, o sorgo tem se mostrado superior ao milho
moído ou laminado para vacas leiteiras é igual ao milho
floculado. A ensilagem de grãos úmidos é vantajosa em
relação ao processamento seco como a moagem ou
laminação, resultando em maior digestibilidade do amido e maior
NDT do cereal.
Milheto
O milheto tem despertado cada vez mais interesse entre os agricultores.
“É uma gramínea rústica, de grande utilidade para
sistemas integrados de produção”, explica o pesquisador da
Embrapa Milho e Sorgo (Sete Lagoas, MG) José Avelino Rodrigues.
José Avelino afirma que tem aumentado a demanda pelo milheto para
plantio em sistemas de rotação de culturas, de
Integração Lavoura-Pecuária e com foco em
produção de palhada para plantio direto.
Para alimentação animal,
o milheto pode ser utilizado na produção de silagem em
regiões com déficit hídrico.
Seu potencial produtivo como forragem pode chegar a 60 toneladas por hectare
de massa verde e a aproximadamente 15 toneladas de hectare de matéria
seca, quando cultivado nos meses de setembro e outubro.
A proporção do gérmen do grão de milheto é
duas vezes maior que do sorgo, um fator que contribui para seu alto valor
nutritivo. Possui quantidades de extrato etéreo e proteína
maiores que do milho e sorgo, com melhor perfil de aminoácidos (maiores
concentrações de lisina, metionina e triptofano). Entretanto,
este teor mais elevado de lipídeos pode afetar sua qualidade, quando
armazenado após a moagem. O teor de proteína do grão de
milheto varia de 8,8 a 20,9% de proteína bruta (média de 16%),
de acordo com os híbridos e manejo da cultura.
Outro ponto a ser considerado é o teor de ácido fítico de
grãos de milheto não processados, sendo um fator antinutricional
com importante influência no valor nutritivo do grão, por ser
prejudicial na atividade de enzimas proteolíticas.
Resíduo úmido de Cervejaria
O resíduo úmido de cervejaria (RUC) é o subproduto gerado
pela indústria após o amido dos grãos de cereais ser
removido para a produção de álcool. Na
fabricação de cerveja, os grãos de cevada sofrem
germinação para converter amido em dextrina e
açúcar, processo este que é interrompido, através
de aquecimento, no ponto máximo de conversão, resultando no
produto denominado "malte de cevada".
O malte de cevada é moído e pode ser misturado com milho, arroz,
ou outros cereais, processo após o qual é feito o cozimento e
separação das frações sólidas e
líquidas. A fração líquida é fermentada
para produzir cerveja, enquanto que a parte sólida é o
resíduo de cervejaria.
Antes da comercialização, o RUC pode ser prensado para remover
parte da água, resultando num produto que contém de 25 a 30% de
matéria seca, ou pode ser secado até 8 a 12% de umidade,
resultando então no resíduo seco de cervejaria (RSC). Os teores
de proteína e de nutrientes (excluindo o amido) são concentrados
no resíduo, em comparação com o cereal do qual se
originou.
O RUC é um subproduto disponível em grandes quantidades nas
indústrias cervejeiras no mundo todo. Existem estimativas de que para
cada 1000 litros de cerveja são produzidos 350 kg de RUC (13% MS).
A proporção de malte de cevada, utilizada com arroz ou milho,
varia entre as indústrias, e a proporção exata faz parte
do segredo industrial. Esta variação na proporção
de grãos resulta nas diferentes composições nutricionais
observadas neste subproduto.
A compilação de sete estudos comparando o RUC com a
combinação de milho e farelo de soja apontou que o consumo
não foi afetado pelo fornecimento de RUC. A
produção de leite e o teor de proteína não foram
alterados em seis, sendo que em um a produção de leite foi
aumentada e o teor de proteína reduzido.
Apesar das vantagens de adotar a cevada na alimentação bovina, o
subproduto não vale para todo mundo. Certamente, o primeiro ponto
é o preço. É preciso que seja mais barato que os produtos
tradicionais, como os farelos de soja e milho, e também que outros
subprodutos, como a polpa cítrica e o caroço de algodão.
Outro ponto é observar o retorno do animal quanto à
produtividade de leite. Se baixar a quantidade de litros, é preciso
fazer a conta para checar se a redução dos custos compensa.
A logística é um fator importante a ser considerado, visto que o
frete precisa compensar a escolha. Por isso, o ideal é que as fazendas
estejam localizadas, em média, até 200 quilômetros de uma
fábrica de cerveja.
Polpa cítrica peletizada.
A polpa cítrica é um subproduto da fabricação de
suco concentrado principalmente de laranja e em menor escala de limão,
pela indústria citrícola, obtida após duas prensagens dos
frutos, que reduzem a umidade a 65-75%. Posteriormente o material é
seco a 100-116 ºC, até que se atinja um teor de MS ao redor de
88-90% e então é peletizada. O resultado final é um
subproduto constituído de cascas, sementes, bagaço e frutas
descartadas.
Devido à sua alta capacidade de reter umidade, a polpa cítrica
exige alguns cuidados para a sua armazenagem na fazenda. Locais secos e bem
ventilados permitem armazenar o produto por períodos longos de
até seis meses sem problema. É fundamental que o material seja
checado periodicamente. Em caso de aquecimento, deve-se espalhar a polpa
imediatamente para evitar combustão.
A polpa cítrica é rica em pectina, um carboidrato de alto valor
nutricional, porém com alta capacidade de reter água e que
dificulta a secagem da polpa. Para facilitar a secagem, é adicionado
antes da prensagem 0,3 a 0,6% de hidróxido ou óxido de
cálcio. Dessa forma o produto final é rico em cálcio e
pobre em fósforo, o que requer cuidados especiais na
formulação da dieta, quando este subproduto é usado em
substituição aos grãos de cereais como milho e sorgo,
pobres em cálcio e adequados em fósforo.
Com base nos dados de composição bromatológica, tem se
atribuído a polpa de citros peletizada um
valor energético ao redor de 85-90% do valor do milho e menor teor
em proteína bruta.
Deve ser considerado um alimento concentrado energético, porém,
apresenta características sob o aspecto de fermentação
ruminal que a colocam como um produto intermediário entre volumosos e
concentrados.
Quando comparada ao milho, a polpa de citros peletizada é um material
com teor muito baixo de amido em sua composição, com valores
entre 0,1 e 0,14% e alto teor em FDN, com 24,2% da MS. Entretanto, a
fração fibrosa da polpa cítrica tem apenas 1% de lignina
e é quase totalmente degradada no rúmen. Outra
característica importante a ser mencionada é o seu alto teor de
carboidratos solúveis ao redor de 25 a 35% da MS.
Além de possuir alto teor de carboidratos solúveis e parede
celular altamente digestível, a polpa cítrica apresenta em sua
composição um carboidrato denominado pectina (25% MS),
constituído por polímeros de ácido galacturônico e
que fazem parte da estrutura da parede celular dos vegetais. A pectina
é um carboidrato estrutural com alta degradabilidade ruminal (90-100%),
sendo invariavelmente o carboidrato complexo de mais rápida
degradação ruminal, apresentando taxas entre 30 a 50% por
hora.
A fermentação da pectina é peculiar, gerando grande
quantidade de energia por unidade de tempo, como ocorre com o amido e
açúcares, porém com fermentação
acética, que caracteriza a celulose e a hemicelulose, reduzindo os
riscos de acidose. Em comparação com o amido, a pectina possui
menor propensão em causar queda de pH ruminal, pois sua
fermentação ruminal favorece a produção de acetato
e não lactato e propionato como a fermentação
amilolítica.
Casca de soja
Do processamento da soja para extração do óleo, gera-se
dois subprodutos de grande importância na alimentação de
bovinos, o farelo de soja e a casca de soja. A casca passa por um processo de
tostagem para inativar a enzima urease e posterior moagem para aumentar a
densidade do material. Cada tonelada e soja moída para a
extração do óleo gera em média 183 kg de
óleo, 733 kg de farelo (48% PB) e 50 kg de casca (5% PB).
A casca de soja é composta principalmente de fibra, que tem pouco valor
na alimentação humana e no uso industrial. No entanto, suas
características físico-químicas, a facilidade de
aquisição em algumas regiões e seu preço
competitivo, fazem da
casca de soja um alimento interessante para o gado leiteiro.
Além do que, pode contribuir para um ambiente ruminal mais
favorável para a digestão de fibra e menor risco de acidose.
Alternativamente, a casca de soja pode ser usada como uma fonte de fibra em
substituição parcial ao volumoso.
Em parte, o valor nutricional da casca de soja para ruminantes é
determinado pela natureza química da casca. Como para muitos outros
subprodutos, a composição química da casca de soja varia
muito entre as indústrias processadoras.
A fração fibrosa da casca de soja, que contém
relativamente grande quantidade de celulose (aproximadamente 43% da MS) e
hemicelulose (aproximadamente 18% da MS), é muito pouco lignificada
(1,4 a 4,3%). O teor de amido tem variado de 0 a 9,4% com valores
médios de 3,6% e os teores médios de pectina têm se
situado em torno de 12,8% da MS.
O valor nutricional da casca de soja é afetado pela taxa com que
é digerida no rúmen e pela taxa com que ela passa pelo
rúmen para os outros compartimentos do trato gastrintestinal. Dados de
experimentos
in situ e
in vitro mostram que os
microrganismos ruminais são capazes de fermentar extensivamente a casca
de soja.
Avaliando-se o desempenho de vacas leiteiras e a substituição do
milho pela casca de soja, em 13 de 15 estudos não houve
diferença no consumo de animais alimentados com dietas controle,
comparados àqueles que receberam casca de soja. A
correlação entre produção de leite e a porcentagem
de casca de soja na dieta em 10 estudos foi baixa e não significativa.
O teor de gordura do leite não se correlacionou com a
concentração de casca de soja na dieta, ou com o teor de FDN
provindo da casca de soja, em 10 dos estudos revisados.
A substituição de grão de cereais por casca de soja
diminuiu o teor de proteína do leite. Esta resposta pode parcialmente
ser explicada pelo baixo teor de carboidratos não estruturais em dietas
que contém altos níveis de casca de soja, podendo limitar a
síntese de proteína microbiana no rúmen.
Embora a substituição parcial ou total do milho moído
fino por casca de soja possa não afetar o consumo e a
produção de leite, estudos tem demonstrado que a
eficiência alimentar (LCG 3,5%/CMS) foi maior nas dietas contendo casca
de soja. Esses dados mostram a possibilidade de redução nos
custos de alimentação de vacas de bom potencial de
produção, com a substituição parcial ou total do
milho por casca de soja em dietas contendo silagem de milho como volumoso e
polpa cítrica como concentrado energético.
A casca de soja, quando incluída em dietas contendo silagem de milho
como volumoso, em substituição a polpa cítrica
peletizada, apresentou valor nutricional similar ao da polpa
cítrica.
Farelo de Amendoim
O farelo de amendoim tem valor nutricional superior ao do farelo de
algodão e características bastante semelhantes às do
farelo de soja, mas sua fração protéica possui
degradabilidade ruminal bem mais elevada que a do farelo de soja.
Essa maior degradabilidade ruminal do farelo de amendoim impõe aos
nutricionistas duas dificuldades. Em primeiro lugar, limita a
utilização de ureia em rações com esse subproduto,
já que boa parte da PDR (proteína degradável no
rúmen) do farelo de amendoim é composta por NNP
(nitrogênio não protéico). A outra dificuldade se refere
ao balanceamento de PM (proteína metabolizável).
Dessa forma, a utilização desse subproduto pode ser interessante
para vacas com produção de até 20 kg leite/dia, onde o
nível de inclusão não será muito alto.
Atenção especial deve ser dada a questão da
contaminação do farelo de amendoim com micotoxinas,
especialmente as aflatoxinas. A ingestão de aflatoxinas pode até
levar o animal à morte, e no mínimo causa redução
de consumo e desempenho, dependendo da dose e da frequência de
ingestão, além da idade, peso vivo, sexo e estado nutricional do
animal.
Ao adquirir uma partida de farelo de amendoim, esta deverá ser
analisada antes da utilização, em laboratório
especializado em análise de micotoxinas. Dessa forma percebe-se que a
utilização desse subproduto deve ser cuidadosa e criteriosa.
Quando seu preço for competitivo, pode ser uma alternativa interessante
para compor rações de vacas leiteiras, desde que sejam
respeitadas as restrições nutricionais e sanitárias.
Raspa e Farelo de mandioca
Além dos cereais, algumas raízes e tubérculos
também são ricos em amido, como por exemplo a mandioca.
Com o processamento industrial para produção de farinha e a
extração de amido, gera-se resíduos sólidos como
cascas, bagaços e descartes e resíduos líquidos como a
água de lavagem e a manipueira (água de goma).
Tanto a parte aérea como as raízes frescas e os subprodutos
sólidos têm potencial para uso na alimentação
animal. No Brasil as formas mais comuns de utilização da raiz da
mandioca para bovinos são a raspa de mandioca, que consiste na raiz
picada e seca ao sol ou artificialmente, podendo ser triturada posteriormente,
originando o farelo de raspa; e o farelo de mandioca, originado após a
segunda peneiragem do processo de extração da fécula, o
farelo de mandioca tem um aspecto grosseiro, por conter o material mais
fibroso da raiz.
Apesar de rico em amido, seu teor deste nutriente é inferior ao da
raspa. O teor de amido na matéria seca varia entre 72 a 91% na raspa de
mandioca e entre 60 a 65% no farelo de mandioca.
O
amido da mandioca diferencia-se consideravelmente do amido do
milho.
Enquanto no milho, a amilopectina representa pelo menos 70 % do amido,
já na mandioca a amilopectina representa apenas 17% do amido. O amido
de mandioca não apresenta matriz protéica associados aos
grãos de amido. Por outro lado, apresenta altos teores de amilose.
A pesquisa considera que o farelo de mandioca caracteriza-se como subproduto
de boa utilização pela microflora ruminal, com coeficiente de
digestibilidade da MS acima de 61%. Esta característica é um
fator positivo quando a dieta é balanceada adequadamente. Entretanto,
dietas com excesso de amido de alta degradabilidade ou deficientes em fibra
efetiva, aumentam significativamente os riscos de ocorrência de baixo pH
ruminal, levando á baixo teor de gordura do leite, queda no consumo e
na produção de leite e incidências de laminite.
Desta forma
deve se evitar a substituição total do milho ou sorgo por
amido de mandioca em dietas para vacas leiteiras de bom potencial de
produção. A substituição pode ser total quando a raspa ou farelo de
mandioca são combinados com subprodutos como polpa cítrica,
casca de soja, farelo de trigo ou de glúten de milho (refinasil ou
prómill) ou outros subprodutos com baixo teor em amido.
Outro cuidado que deve ser tomado quando do uso de mandioca na
alimentação de bovinos é com relação
à presença de compostos tóxicos. A mandioca contém
os glicosídeos linamarina e lotaustralina, que geram o ácido
cianídrico (HCN). Este composto tóxico pode causar danos
neurológicos crônicos ou até mesmo a morte do animal.
Com base nos teores de HCN a mandioca pode ser classificada como raiz mansa ou
brava. Tanto a parte aérea como as raízes contêm este
composto tóxico, porém os valores são mais altos na parte
aérea.
Os métodos mais eficientes de se eliminar o HCN é a secagem do
material, natural ou artificialmente ou o cozimento da raiz. Entretanto, a
simples exposição ao ar por 24 a 48 horas da raiz ou parte
aérea é suficiente para a volatilização do HCN.
Assim, os riscos de intoxicação só ocorrem com o
fornecimento de parte aérea e raízes frescas, trituradas e
fornecidas aos animais imediatamente após a colheita.
Nas comparações realizadas pela pesquisa, normalmente o consumo
e os componentes do leite não são alterados. Por outro lado, a
produção de leite pode ou não ser afetada.
Farelo de trigo
Da produção da farinha de trigo para consumo humano resultam
vários subprodutos, dentre eles o farelo, o gérmen e
frações de aleurona do grão. Todos estes subprodutos
são adequados para a alimentação animal, porém
apenas o farelo de trigo tem importância comercial no Brasil. De cada
tonelada de trigo processado, 70 a 75% é convertida em farinha e o
restante, 25 a 30% é transformada em subproduto com uso potencial na
alimentação animal.
Como o objetivo do processamento industrial é obter a farinha, esta
basicamente constituída por amido, o farelo de trigo concentra quase a
totalidade dos minerais e vitaminas dos grãos, com teores relativamente
constantes.
Por causa da
alta digestibilidade, o farelo de trigo tem sido usado principalmente para
substituir grãos de cereais. É comumente usado como fonte de energia e proteína em
concentrados comerciais para vacas em lactação. A energia
contida no farelo de trigo é similar à contida nos grãos;
entretanto, a energia está na forma de fibra digestível e
não na forma de amido.
A proteína bruta do farelo de trigo é extensivamente degradada
rúmen e promove poucos aminoácidos para o abomaso do que outras
fontes de subprodutos de alta energia. Entretanto, a aparente baixa energia
contida no farelo de trigo comparado com o milho era
contrabalanceada pela variação benéfica na
ingestão de forragem e/ou digestibilidade.
O consumo de vacas alimentadas com farelo de trigo em
substituição ao milho em até 60% tende a ser igual ao
observado nas dietas controle, formuladas com base em farelo de soja, milho
moído e silagem de milho. Entretanto, quando o farelo de trigo
substituiu substancialmente a forragem (15%), houve aumento no consumo.
Vacas que recebem dieta com farelo de trigo podem apresentar maior
concentração ruminal de amônia do que vacas recebendo
dieta alta em forragem. A concentração foi sempre acima de 11
mg/dL, sendo adequado para síntese de proteína microbiana e
digestão do alimento. Também, a digestibilidade do
nitrogênio aumentou de 55 para 61,9% quando o farelo de trigo esteve
presente na dieta.
Em substituição ao milho, a produção de leite se
manteve inalterada com a utilização de farelo de trigo em
até 45% do concentrado. Quando a inclusão foi entre 45 e 60% a
produção de leite reduziu. Em combinação com
refinasil e casca de soja com dois níveis de farelo de trigo na dieta,
a produção de leite foi mantida, embora a teor de gordura tendeu
a diminuir.
O teor e a produção de gordura do leite aumentaram linearmente
à medida que se aumentou a proporção dos subprodutos
farelo de trigo, grãos destilados e caroço de algodão,
associados a diferentes níveis de milho de alta umidade. Entretanto, a
maior percentagem de gordura do leite foi observada quando se forneceu dieta
sem subprodutos e com baixo teor de milho de alta umidade.
Por outro lado, outros estudos não observaram efeito sobre a
produção e composição do leite em dieta contendo
22,38% de farelo de trigo com igual quantidade de casca de soja, farelo de
glúten de milho ou 34,5% de milho moído. Alguns estudos
demonstraram tendência para maior teor de gordura para vacas consumindo
casca de soja em relação ao farelo de trigo. A lactose e os
sólidos totais desengordurado tendem a serem maiores para a dieta com
farelo de trigo.
Quando a palatabilidade não é problema, o farelo de trigo pode
ser incorporado facilmente nas dietas de ruminantes, desde que seja
viável economicamente, porém quando utilizado em grandes
quantidades na dieta, o desempenho dos animais diminui. Portanto, as vacas
alimentadas com dietas contendo grandes quantidades de farelo de trigo,
poderão ser beneficiadas de adicional proteína não
degradável no rúmen, especialmente durante o início da
lactação. De maneira geral, o farelo de trigo pode constituir
até 45% do concentrado ou 25% da dieta, sem afetar a
produção e a composição do leite.
Caroço de Algodão
O caroço de algodão é um subproduto do beneficiamento do
algodão em caroço para extração da fibra de
algodão. Este subproduto é disputado pela indústria
moageira para a extração de óleo e produção
de farelo e por pecuaristas para o fornecimento aos animais na forma integral.
O beneficiamento de 100 kg de algodão em caroço resulta em 39 kg
de pluma, 61 kg de caroço.
O caroço de algodão é um alimento com
características particulares, pois contém
alto teor energético característico de alimentos concentrados
ao mesmo tempo em que é rico em fibra efetiva, comum aos alimentos
volumosos. Além desses nutrientes o caroço é boa fonte de
proteína e rico em óleo e fósforo.
O alto teor em óleo do caroço, ao mesmo tempo em que confere a
este subproduto alto valor energético, impõe limites à
sua inclusão na dieta, uma vez que a fermentação ruminal
e o crescimento microbiano podem ser afetados negativamente por teores
elevados de gordura insaturada no rúmen. Outro fator importante a se
considerar é o alto teor em gossipol do caroço e do farelo de
algodão.
Os ácidos graxos dos lipídios contidos no caroço do
algodão quando em doses altas no rúmen, prejudicam a atividade
fermentativa de bactérias celulolíticas e fungos.
A grande maioria dos trabalhos mostrou que ocorre redução no
consumo com inclusão de caroço de algodão nas doses de 12
a 34% da MS da dieta em comparação com a dieta sem
caroço. Apesar desta redução no consumo de MS, o consumo
de energia não foi reduzido, em função do teor
energético do caroço. Em contrapartida, também se pode
encontrar relatos de estudos onde não encontraram efeito no consumo de
MS de vacas em lactação quando incluíram caroço de
algodão na dieta nos teores que variaram de 0 a 30% da MS da dieta.
Doses intermediárias de caroço de algodão geralmente
não afetaram a produção de leite, ao passo que em alguns
estudos, doses elevadas, acima de 25% da MS, reduziram a
produção. Outros estudos entretanto, mostraram maior
produção de leite corrigida para 4% e para 3,5% de gordura com o
fornecimento de caroço de algodão.
Na maioria dos trabalhos houve aumento na produção de leite
corrigida para 4% de gordura com a inclusão de caroço de
algodão nas dietas. Em grande parte dos trabalhos observou-se queda na
porcentagem de proteína do leite, mas devido ao pequeno aumento da
produção de leite, houve pouca diminuição na
produção total de proteína. Por outro lado, não
relataram variações significativas nos teores de proteína
do leite com o fornecimento de caroço de algodão.
Os resultados encontrados na literatura em relação ao teor de
gordura do leite são controversos. De uma compilação de
13 estudos onde a inclusão de caroço de algodão na dieta
foi entre 100 a 300 g/kg, o teor de gordura do leite aumentou em oito dos 13
experimentos; entretanto somente em quatro o aumento foi significativo em
relação à dieta controle.
Outro aspecto que tem sido relatado por afetar as respostas à
suplementação lipídica é o tipo de volumoso
utilizado. Em geral, em dieta com silagem de milho, a
suplementação com lipídios ativos no rúmen,
é questionável, pois muitos experimentos não tem obtido
resultados favoráveis. Em alguns trabalhos ocorreu aumento na
produção de leite, mas queda na porcentagem de gordura do leite,
ou manutenção da produção de leite e
decréscimo na porcentagem de gordura com a inclusão de
caroço de algodão na dieta. Por outro lado, quando o
caroço de algodão foi incluído em dietas de feno de
alfafa, houve aumento na porcentagem de gordura do leite e na
produção de leite.
A produção de leite diminuiu, provavelmente, pela menor
eficiência do microbiota ruminal, comportamento evidenciado pelo efeito
significativo no aumento da concentração de ureia no leite. Na
dieta com 21% de caroço de algodão, o caroço substituiu
completamente o farelo de soja, fonte de proteína verdadeira de alta
qualidade. A proteína do caroço, por sua vez, é de alta
degradabilidade ruminal. Ao somarmos a isso a redução no teor de
amido na dieta com 21% de caroço, pode-se concluir que faltou energia
para a utilização da proteína, aumentando assim a
uréia no leite. A tendência observada para o teor de
proteína do leite retrata bem esta alteração na qualidade
da proteína fornecida para as vacas.
Outro fator que pode ter colaborado para a redução na
produção de leite, produção de leite corrigida e
aumento na concentração de ureia, é uma provável
redução no consumo de matéria seca. Uma vez que o consumo
de concentrado era individual e em quantidade fixa, a provável
variação no consumo seria única e exclusivamente de
forragem, tornando a dieta ainda mais rica em proteína e desbalanceada
em termos de energia, principalmente em precursores gliconeogênicos.
Isso também explicaria a redução no desempenho, aumentos
nas concentrações de ureia e tendência para
redução nos teores de lactose do leite.
Farelo proteinoso milho (Refinazil ou Promill)
O farelo proteinoso de milho (FPM), conhecido comercialmente no Brasil por
Refinazil e Promill, é um co-produto do processamento industrial do
milho para a produção de amido e adoçantes.
Tecnicamente, é o que sobra do grão de milho após a
extração da maior parte do amido, glúten e germe, pelos
processos de moagem e separação empregados na
produção de amido e xarope de milho, sendo 2/3 de
conteúdo fibroso e 1/3 de licor concentrado de
maceração. O rendimento na produção deste
co-produto é estimado em 11% do material original que chega na
indústria.
O FPM contém, em média, 23 a 24% de proteína bruta na
MS, 36 a 44% de FDN de alta digestibilidade, 5 a 20% de amido, e é
rico em fósforo. Quando incluído na ração de
vacas leiteiras, permite substituir parte do suplemento energético
(milho) e parte do suplemento protéico (farelo de soja) da
ração. Em média, cada kg deste co-produto pode
substituir 1 kg da mistura contendo 0,7 kg de milho e 0,3 kg de farelo de
soja. A recomendação geral tem sido incluí-lo em, no
máximo, 20% da MS da dieta total de vacas leiteiras.
Em 5 estudos conduzidos fora do Brasil, nos quais o farelo proteinoso de
milho foi incluído em concentrações entre 10 a 40% da
MS das dietas totais, o consumo de MS (CMS) não foi afetado em
3 estudos, foi aumentado em 1 e reduzido em 1. A
produção de leite corrigida para gordura não foi
alterada em 2, aumentou em 2 e diminuiu em 1 estudo. O efeito negativo desse
co-produto tanto no CMS quanto na produção de leite, ocorreu
com doses altas de inclusão na dieta, ou seja, 40% da MS.
Um trabalho sobre fornecimento de farelo proteinoso de milho foi conduzido
no Departamento de Zootecnia da ESALQ com vacas alimentadas com silagem de
milho. As dietas continham partes iguais de polpa cítrica e milho
como concentrados energéticos. O milho foi substituído em 50%
ou 100% pelo FPM, o teor de polpa cítrica foi mantido constante e o
teor de uréia foi reduzido nas rações com a
inclusão do co-produto. A produção de leite foi
levemente reduzida pela inclusão de FPM na dieta, com aumento no teor
de gordura e queda no teor de proteína.
Grãos de aveia branca
A produção de aveia tem papel importante nos sistemas de
produção da região sul do Brasil, com potencial para
diversas outras regiões. Seu valor nutricional faz da aveia uma
excelente alternativa para a alimentação animal em
períodos de escassez de alimentos, como ocorre no inverno.
Suas características permitem grande flexibilidade de uso, podendo ser
utilizada na forma de pastagens, através do uso de grãos secos
ou conservada na forma de silagem.
Considerações finais
A utilização de co-produtos alternativos ao milho permite
baixar o custo da alimentação de vacas leiteiras sem
prejuízo à produção de leite, quando a
inclusão na dieta é feita de forma técnica.
Vacas mantidas em pastagens toleram maiores níveis de
substituição do milho por co-produtos que vacas confinadas, em
virtude da menor produção de leite. Em geral, substituir 50%
do milho e, em alguns casos, até 75% pelos co-produtos acima
discutidos, não afeta negativamente o desempenho de vacas com
produções de até 20 kg de leite/dia.
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Fontes consultadas:
Fontes alternativas de energia para bovinos leiteiros - Parte 1
(https://www.milkpoint.com.br/artigos/producao/fontes-alternativas-de-energia-para-bovinos-leiteiros-parte-1-39985n.aspx)
Fontes alternativas de energia para bovinos leiteiros - Parte 2
(https://www.milkpoint.com.br/artigos/producao/fontes-alternativas-de-energia-para-bovinos-leiteiros-parte-2-40703n.aspx)
Fontes alternativas de energia para bovinos leiteiros - Parte 3
(https://www.milkpoint.com.br/artigos/producao/fontes-alternativas-de-energia-para-bovinos-leiteiros-parte-3-41590n.aspx)
Fontes alternativas de energia para bovinos leiteiros - Parte 4
(https://www.milkpoint.com.br/artigos/producao/fontes-alternativas-de-energia-para-bovinos-leiteiros-parte-4-42182n.aspx)
Fontes alternativas de energia para bovinos leiteiros - Parte 5
(https://www.milkpoint.com.br/artigos/producao/fontes-alternativas-de-energia-para-bovinos-leiteiros-parte-5-42829n.aspx)
Fontes alternativas de energia para bovinos leiteiros - Parte 6
(https://www.milkpoint.com.br/artigos/producao/fontes-alternativas-de-energia-para-bovinos-leiteiros-parte-6-43853n.aspx)
Embrapa lança nova variedade de milheto
(https://www.embrapa.br/milho-e-sorgo/busca-de-noticias/-/noticia/34385156/embrapa-lanca-nova-variedade-de-milheto)
Criadores usam cevada na ração de vacas leiteiras para reduzir
custos
(https://revistagloborural.globo.com/Noticias/Criacao/Leite/noticia/2017/04/criadores-usam-cevada-na-racao-de-vacas-leiteiras-para-reduzir-custos.html)
Utilização de co-produtos na alimentação de vacas
leiteiras
(https://www.revistaleiteintegral.com.br/noticia/utilizacao-de-co-produtos-na-alimentacao-de-vacas-leiteiras)