A importância da água de qualidade na produção leiteira

Postado em: 28/09/2023 | 5 min de leitura Escrito por: Luma Maria Souza Machado
A água é essencial na produção leiteira. Sua importância engloba desde a hidratação do animal, higienização de equipamentos, resfriamento e manejo de resíduos, até a irrigação de áreas de pastagem e lavouras, que serão destinadas à alimentação do rebanho.

Diante disso, o alerta que fica para os produtores e técnicos é voltado à adoção de medidas de manejo hídrico mais eficientes, como por exemplo, utilizar tecnologias de monitoramento remoto, adotar práticas de conservação da água e também adotar sistemas de produção mais sustentáveis. Assim, é possível proporcionar uma maior disponibilidade da água tanto em em quantidade quanto em qualidade na propriedade.

Partindo do princípio que a água é um recurso renovável, limitado e potencialmente escasso, o que seria de fato água com qualidade para produção de leite? O que precisamos nos atentar? Quais os riscos e perigos de uma água contaminada? Veja neste blog!

O que é a água com qualidade para produção leiteira?

Qualidade de água refere-se a uma água que não oferece nenhum tipo de perigo ou risco para a produção leiteira e a saúde animal. Existem diferenças entre perigo e risco: enquanto risco está associado à probabilidade de ocorrência de um efeito, perigo é uma característica própria de uma substância ou de uma situação.

Contextualizando, uma água de má qualidade que contenha bactérias seria um perigo enquanto seu uso, por exemplo na sala de ordenha, traz um risco que pode ser quantificado e expresso em probabilidade, como o aumento da CBT - células bacterianas totais ou CPP no leite.

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A Instrução Normativa nº 77 (26/11/2018) enfatiza a importância da qualidade da água na sala de ordenha. Esta instrução embasou a criação do Plano de Qualificação de Fornecedores de Leite (PQFL) - um guia para qualificar os produtores de leite. O Capítulo 5 deste manual destaca:
  • 5.1 Isolamento adequado das fontes de água.
  • 5.2 Higienização regular dos reservatórios.
  • 5.3 Registro desta higienização.
  • 5.4 Uso de água potável na limpeza de equipamentos.
  • 5.5 Realização de análises da qualidade da água.
  • 5.6 Tratamento da água.
Notem que o manual utiliza o termo potável. A questão é: o que define água como potável?

Água potável é a que podemos ingerir com segurança, não apresentando riscos à saúde humana. Este é o padrão mais rigoroso de qualidade de água que existe.

A Portaria Nº 888, de 4 de abril de 2021, estabelece os padrões de qualidade para água potável. Recém-revisada, essa regulamentação é atualizada a cada 5 anos, determinando as diretrizes de controle, vigilância e padrão de potabilidade da água destinada ao consumo humano.

Exemplo prático


Manter padrões rigorosos de qualidade é crucial, principalmente quando observamos os riscos associados à contaminação da água no processo de produção do leite. Para ilustrar, quando o leite se encontra em temperaturas acima de 13°C, a multiplicação bacteriana é intensificada, dobrando-se em um intervalo de apenas 20 minutos. Embora abaixo dessa temperatura as bactérias cresçam em um ritmo mais contido, a multiplicação ainda ocorre.


Ao analisar um gráfico, percebemos que em temperaturas de 30°, 25°, 20° e até mesmo 15°, a proliferação bacteriana é significativa. A estabilidade bacteriana só é aproximadamente alcançada ao atingir uma temperatura de 4°C, e mesmo assim, um leve crescimento ainda é observado. Por isso, é essencial refletir sobre a rapidez com que o leite é resfriado e o intervalo de tempo até que a coleta seja feita pela empresa parceira.

Uma gota de água impura pode abrigar até 1.000.000 UFC/mL, sendo que uma medida eficaz e simples para minimizar essa contaminação é a filtragem combinada com a coloração.

Imagine que uma minúscula gota com 200.000 UFC afete um litro de leite. Se a temperatura estiver acima de 13ºC, essa quantidade de bactérias dobrará a cada 20 minutos. Assim, em apenas 60 minutos, teremos um aumento para 800.000 bactérias, equivalente a 80.000 UFC/100 mL.

O tempo necessário para esfriar o leite, juntamente com o período que ele permanece no reservatório antes de ser coletado, são fatores cruciais. Se na hora da coleta o leite ultrapassar os limites aceitáveis de contaminação, isso não necessariamente indica falhas na higienização, ou no manejo da ordenha. Pode ser resultado da interferência de uma pequena quantidade de água impura que prejudicou todo o lote de leite.

Impactos da água contaminada na sala de ordenha

Além do mencionado acima, a água contaminada na sala de ordenha representa um risco significativo tanto para a saúde dos animais quanto para a qualidade do leite produzido. Aqui estão alguns dos riscos e perigos associados a isso:

  • Doenças nos animais: a água contaminada pode conter patógenos prejudiciais que podem causar doenças em animais, levando a problemas de saúde, diminuição na produção de leite e, em casos extremos, a morte.
  • Danos no equipamento: alguns contaminantes presentes na água, como sais ou substâncias químicas, podem corroer ou danificar os equipamentos de ordenha ao longo do tempo.
  • Riscos à saúde humana: se o leite contaminado chegar ao consumidor, pode haver riscos à saúde, incluindo infecções alimentares, que podem ser graves dependendo dos patógenos presentes.
  • Diminuição da qualidade do leite: a contaminação pode afetar negativamente a composição e a qualidade do leite, tornando-o menos valioso ou até mesmo inútil para venda.
  • Impacto ambiental: o escoamento de água contaminada a partir da sala de ordenha pode entrar em cursos de água locais, afetando a flora e fauna aquáticas.
  • Riscos de químicos tóxicos: a presença de produtos químicos tóxicos na água contaminada, como pesticidas ou metais pesados, pode ter efeitos adversos na saúde dos animais e dos seres humanos.
  • Reputação e confiança: a descoberta de contaminação no leite pode afetar negativamente a reputação de uma fazenda ou marca, tornando mais difícil para os consumidores confiarem nos seus produtos no futuro.
Em suma, a água desempenha um papel vital na produção leiteira, afetando diretamente a qualidade e a segurança do leite que chega às mesas dos consumidores. A preocupação com a disponibilidade e a qualidade da água é uma realidade para produtores e técnicos em todo o Brasil. Para enfrentar esse desafio, a adoção de práticas de manejo hídrico eficientes, o uso de tecnologias avançadas, a conservação da água e a transição para sistemas de produção mais sustentáveis são cruciais.

Além disso, é fundamental compreender o conceito de água potável e a sua importância na produção leiteira, pois qualquer contaminação pode comprometer a qualidade e a segurança do leite. A regulamentação rigorosa estabelecida pela Portaria Nº 888 é um guia importante para garantir que a água utilizada seja segura para o consumo humano e, por consequência, para a produção leiteira.

A análise detalhada das implicações da temperatura na multiplicação bacteriana no leite ressalta a importância de um resfriamento rápido e eficaz, bem como a necessidade de monitorar constantemente a qualidade da água utilizada nos processos de produção.

Em última análise, a produção leiteira é uma atividade que exige uma gestão cuidadosa da água e a manutenção de padrões de qualidade rigorosos. A conscientização e a implementação de práticas sustentáveis e seguras são essenciais para garantir a continuidade da produção de leite de alta qualidade, atendendo às demandas do mercado e protegendo a saúde dos consumidores.

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